Significado das invocações da Virgem Maria no Ofício da Imaculada Conceição

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Significado dos nomes e invocações a Virgem Maria no Ofício da Imaculada Conceição:

[1] A Constituição Dogmática Lumen Gentium ensina que a Virgem Maria: “Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por um vínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de Deus Filho; é, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo” (LG 53).

[2] Agora: a palavra “agora” no Ofício da Imaculada não é um simples advérbio de tempo, mas uma expressão de ação de graças, de comemoração pelos favores recebidos, de gratidão e de carinho para com a Virgem Imaculada. O entusiasmo do velho Simeão exemplifica bem este sentimento de gratidão, quando recebeu nos braços o Menino Jesus: “Agora, Senhor, deixai o vosso servo ir em paz, segundo a vossa palavra” (Lc 2, 29).

[3] Senhora do mundo: no livro do Êxodo, Maria, irmã de Moisés, guiou as mulheres no caminho para a terra prometida (cf. Ex 15, 20-21). Esta mulher era figura da Virgem de Nazaré, que também se chamava Maria. Ela é nossa mestra e senhora, que nos guia para o Reino dos Céus. A Virgem Maria é Mãe de Deus, de Jesus Cristo, nosso Senhor, por isso, ela é chamada de Senhora do mundo. São Bernardino de Sena disse que “a soberania da Mãe de Deus não tem limites nem no céu nem na terra. […] Todos os seres, sem exceção alguma, estão sob o domínio divino, e pela mesma razão, sob o domínio de Maria”.

[4] Virgem das Virgens: Maria Santíssima recebe o título de virgem das Virgens devido à herança da tradição judaica, segundo a qual, na ausência de superlativos, usava-se dessa forma para expressar a excelência de Maria, a mais santa de todas as virgens.

[5] Estrela da Manhã: Nossa Senhora é chamada de “Estrela da Manhã” porque ela precedeu Jesus Cristo, o “Sol da Justiça” (Ml 3, 20). Na sua Imaculada Conceição já brilhava a luz do Senhor, que é a “Luz do mundo” (Jo 8, 12; 9, 5).

[6] Cheia de graça divina: a expressão “cheia de graça divina” nos recorda as primeiras palavras do Arcanjo São Gabriel no mistério da Anunciação da encarnação do Verbo de Deus: “Ave cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28).
[7] Escolhida desde a eternidade: A Encarnação do Verbo foi decretada por Deus desde toda eternidade e, neste decreto divino, já escolheu a Virgem Maria para ser a Mãe do Filho de Deus.

[8] Esposa de Deus: o livro do Gênesis, logo depois da maldição de Deus sobre a serpente, profetiza-se a respeito da Mulher e da sua descendência, que lhe esmagaria a cabeça: “Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela” (Gn 3, 15). Com razão podemos chamar de Esposa de Deus à Mulher que foi escolhida pelo Altíssimo para gerar o Filho de Deus encarnado (cf. Lc 1, 26-38).

[9] Casa de Deus: A casa da Virgem de Nazaré foi a casa de Deus neste mundo. Por isso, nada mais justo que, depois da sua Assunção aos Céus, o Senhor acolhesse Maria Santíssima em seu tabernáculo eterno.

[10] Mesa para Deus ornada: A Virgem Maria é a mesa que foi esplendidamente preparada para a vinda do Filho de Deus ao mundo. Ela é também a coluna sagrada que sustenta a nossa fé nas tribulações deste mundo.

[11] Casa dedicada: Nossa Senhora é a casa de Deus; seu ventre virginal foi o primeiro sacrário da Terra. Este lugar santo não conheceu nem a mínima mancha de pecado.

[12] Santa desde o ventre: A Virgem de Nazaré foi concebida, no seio de Ana, sua mãe, sem a mancha do pecado original.

[13] Mãe criadora: Maria Santíssima é Mãe criadora porque, enquanto Eva é a mãe dos viventes na ordem da natureza (cf. Gn 3, 20), a Mãe de Deus é nossa Mãe na ordem da graça, pois gera Jesus Cristo em nós e nós em Jesus Cristo (cf. LG 61).

[14] Dos santos porta: Se pelo ventre da Virgem Maria nos veio o Salvador, por ela receberemos os dons da graça celeste e se abrirá para nós a feliz porta do Céu.
16] Forte esquadrão contra o inimigo: A Virgem Maria deixa extasiados os anjos e aterrorizados os demônios: “Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol, temível como um exército em ordem de batalha?” (Ct 6, 10).

[17] Estrela de Jacó: Balaão profetiza que uma estrela sairia de Jacó, do povo de Israel sairia Aquele que venceria os inimigos (cf. Nm 24, 17). A estrela de Jacó é a imagem da Santíssima Virgem, que nos deu o Salvador do mundo.

[18] Trono de Salomão: O rei Salomão mandou fazer para si um trono esplendoroso, feito de marfim e todo revestido de ouro (cf. 1 Rs 16, 20). Do mesmo modo, Aquele que á maior do que Salomão (cf. Mt 12, 42), preparou para si um Trono, mais e belo e nobre, revestidos de todas as graças, que é a Santíssima Virgem.

[19] Arca do Concerto: também chamada de Arca da Aliança, lugar de encontro entre Deus e seu povo, continha: as tábuas da Lei; o maná, que alimentou o povo hebreu no deserto; e a vara de Aarão, que floresceu milagrosamente. Maria é a nova Arca da Aliança, onde Deus se manifestou ao homem. Jesus é o novo Moisés, que nos deu: a nova Lei (cf. Mt 5, 17-48); e o novo maná, que é a Eucaristia, nosso alimento no deserto desta vida. A vara de Aarão simboliza a Virgem Santíssima que, sem ter conhecido homem (cf. Lc 1, 34), gerou, pela força do Espírito Santo, o Filho de Deus (cf. Lc 1, 35).

[20] Velo de Gedeão: Velo é o couro do carneiro com a lã e Gedeão foi o juiz de Israel que obteve de Deus um duplo sinal: o velo passou a noite ao relento e amanheceu todo molhado, enquanto a terra permaneceu seca. Noutra noite, o velo ficou seco, enquanto a terra ficou molhada (cf. Jz 6, 36-40). O orvalho que desceu sobre o velo e depois sobre toda a terra, simboliza a plenitude da graça recebida pela Virgem Maria (cf. Lc 1, 28), que depois foi concedida aos seus servos e filhos.

[21] Íris do céu clara: O arco-íris é um sinal da Aliança entre Deus e os homens, concedido depois do dilúvio (cf. Gn 9, 13). A Virgem Maria é o sinal da nova Aliança, do próprio Deus, que veio ao mundo para nos salvar das águas tempestuosas da história humana
22] Sarça da visão: Deus se manifestou a Moisés numa sarça, que queimava sem se consumir (cf. Ex 3, 1-6), para que ele libertasse o povo de Israel da escravidão do Egito. A Mãe de Deus está simbolizada nesta sarça, pois, sem perder a virgindade, deu à luz Aquele que veio libertar o novo podo de Deus da escravidão do pecado e conduzi-lo para a terra prometida, para a Jerusalém celeste.

[23] Favo de Sansão: cheio do Espírito do Senhor, Sansão matou um leão e, depois de alguns dias, foi ver o seu cadáver. Para sua surpresa, na sua boca havia abelhas e mel em favos (cf. Jz 14, 6-8). Esta passagem diz respeito a Nossa Senhora, que no meio da humanidade morta por causa do pecado, aparece com toda a sua doçura.

[24] Florescente vara: A encarnação do Verbo no seio da Virgem Maria é o cumprimento da profecia: “Um ramo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes” (Is 11, 1). A Mãe de Deus é o ramo que floresce, que da à luz o bendito fruto de seu ventre (cf. Lc 1, 42), nosso Senhor Jesus Cristo.

[25] Templo da Trindade: Santíssima Virgem é o “templo” não construído por mãos humanas, onde o próprio Deus veio habitar (cf. At 17, 24). Em Maria se cumpriu por antecipação a promessa de Jesus: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará, e nós viremos a ele e nele faremos nossa morada” (Jo 14, 23).

[26] Alegria dos anjos: a Santíssima Virgem é chamada de “alegria dos anjos”, pois alegrou o anjo Gabriel, na Anunciação da Encarnação do Verbo, com o seu sim à vontade de Deus (cf. Lc 1, 38); alegrou também o anjo encarregado de anunciar o nascimento do Menino Jesus, que acabara de nascer de seu ventre virginal, aos pastores que estavam nos arredores da gruta em Belém (cf. Lc 2, 8-12); este anjo juntou-se a uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus e dizia com grande alegria: “Glória a Deus no mais alto dos céus e na terra paz aos homens, objetos da benevolência (divina)” (Lc 2, 14).

[27] Horto de deleites: o Horto, ou jardim, do Éden, que significa delícia, tinha uma terra virgem, que produzia, sem intervenção do homem, os mais deliciosos frutos e a mais linda vegetação. Este jardim era irrigado por uma fonte abundantíssima, que fertilizava a terra. Este jardim das delícias é o perfeito símbolo de Maria, a Virgem que também é Mãe. Sua fecundidade vem da fonte de Água Viva, que é o Espírito Santo. São João Damasceno diz a respeito da Santíssima Virgem: “Tu és o Horto espiritual, mais santo e mais divino que o antigo, pois este foi a morada de Adão e tu foste o paraíso daquele que desceu do céu para habitar em ti”.

[28] Palma de paciência: Nossa Senhora á digna de receber o título de “palma de paciência”, pois ela suportou pacientemente as provações, as angústias, os sofrimentos que a missão de Mãe do Redentor lhe exigiu. Depois de uma vida austera, toda dedicada ao Filho, restava-lhe ainda a mais difícil dos tormentos. A Virgem das Dores permaneceu de pé junto à cruz do seu Filho (cf. Jo 19, 25), fruto de suas entranhas, sem que a espada da dor lhe fizesse desfalecer (cf. Lc 2, 35). A Mãe de Deus merece ser comparada à figura da palma da vitória, pois permaneceu unida até o fim ao Filho de Deus, que entregando sua vida, venceu a morte.

[29] Terra bendita e sacerdotal: por causa do pecado de Eva e Adão, a terra foi maldita e passou a produzir espinhos e abrolhos (cf. Gn 3, 17-18). Ao contrário, a Virgem Maria é a “terra bendita que produziu o Fruto igualmente bendito: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42). Nossa Senhora é comparada àquela terra prometida ao Povo de Deus, terra santa, onde jorra leite e mel (cf. Êx 3, 8). Ela é também uma “terra sacerdotal”, porque deu à luz Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote (cf. Hb 9, 11).

[30] Cidade do Altíssimo: a Mãe de Jesus é comparada à Cidade Santa, com a qual o Senhor fez uma Aliança de amor (cf. Is 61, 10), à Jerusalém, que desceu do céu, de junto de Deus, revestida da Sua glória (cf. Ap 21, 10-11).

[31] Porta oriental: o profeta Ezequiel disse que o príncipe deveria entrar através da porta oriental do Templo de Jerusalém, para que depois os sacerdotes oferecessem sacrifícios e o povo se prostrasse diante do Senhor (cf. Ez 46, 1-3). A Virgem Maria é comparada a esta, pois ela é a porta pela qual o Filho do Altíssimo (cf. Lc 1, 32), o Príncipe da paz (cf. Is 9, 5), entrou no mundo. Como Deus não muda o seu modo de proceder (cf. TVD 15), a Virgem Maria foi a porta pela qual o Filho de Deus veio ao mundo na primeira vez e será também por ela que Ele voltará na segunda vez (cf. TVD 13).

[32] Lírio cheiroso entre espinhas duras: “Como o lírio entre os espinhos, assim é minha amiga entre as jovens” (Ct 2, 2). Comentando esta passagem, no seu livro “Glórias de Maria”, Santo Afonso Maria de Ligório imagina Deus dirigindo-se a Virgem Maria com estas palavras: “Filha por excelência entre o resto das minhas filhas, sois como o lírio entre os espinhos, pois todas as outras foram manchadas pelo pecado, e só vós fostes sempre imaculada e sempre minha amiga”. Outra comparação igualmente profunda faz Santa Brígida: “assim como a rosa cresce entre os espinhos, assim cresceu Maria entre os sofrimentos”. Estes espinhos são também os nossos pecados, as blasfêmias e ingratidões para com seu Imaculado Coração. Voltando à passagem do Cântico dos Cânticos, o lírio é uma flor que transmite tranquilidade pelo seu aspecto, símbolo da pureza pela sua nitidez, da beleza pelos seus contornos, do encanto pela sua fragrância. Dentre as flores, o lírio é a que mais e melhor podemos comparar a Nossa Senhora, pois além de tudo que dissemos, ela tem o poder de curar.

[33] Torre de Davi: este nome atribuído a Nossa Senhora está relacionado a uma das muitas torres de guarda que Davi mandou construir nas muralhas de Jerusalém (cf. 2 Sm 5, 9; Ct 4, 4). Maria Santíssima é como que uma fortaleza, que contém as defesas contra os inimigos e o arsenal de armas para o combate. A Mãe de Deus é uma torre tão bem edificada, que São Tomás de Villanova assim a descreve: “Ocupando lhe a praça forte, o próprio Deus não podia este sem grande cuidado, permitir ao demônio que dela se apoderasse, nem um instante sequer. Para isso, teve que comunicar-lhe um poder inquebrantável, transformando-a numa verdadeira fortaleza davídica”.

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